por: Marcos de Noronha

SOBRE O PROJETO

A polarização é um fenômeno global que traz sérios comprometimentos a sociedade. Eu arrisco em dizer que se trata de uma doença social prejudicando nossa convivência. Até mesmo pessoas com boas intenções, num ambiente polarizado, podem agir de forma medíocre simplesmente por estarem diante de ideias que contrariam sua forma de pensar. A polarização pode ser despertada em diversos seguimentos: no religioso, com fiéis combatendo pessoas de crenças diferentes; na política, onde o adversário passa a ser considerado inimigo; num estádio de futebol, onde chegamos a perder a esportiva. Na pandemia enfrentamos também uma polarização, onde não havia consenso em relação aos procedimentos sanitários e o uso de medicamentos. A sociedade atual observa estarrecida o aumento das polarizações, como uma verdadeira pandemia, impulsionada pelas plataformas digitais.

Este projeto se refere a produção de um livro com o nome: POLARIZAÇÃO - SINTOMA DE UMA DOENÇA SOCIAL. É, essencialmente, um projeto que acredita no conhecimento e na capacidade de superação do ser humano. O conhecimento deve aplacar estas instabilidades sociais, promovendo recursos para a boa convivência, se entendermos o funcionamento, não só da mente repleta de razões, mas como funciona as nossas emoções e os bastidores do comportamento humano. Porém nossa pretensão é de irmos além do lançamento de um livro, para promovermos inúmeros encontros de palestras interativas fomentando debates saudáveis.

ORÇAMENTO

O livro "Polarização - Sintoma de uma Doença Social" e os eventos a partir dele, recorreu ao financiamento coletivo essencialmente para oferecer conhecimento, buscar o engajamento das pessoas para esta causa e dar oportunidade a elas de participarem de um movimento de integração social e ética. Dentre estas pessoas encontraremos aqueles que já me conhecem e que estão propensos à esta empreitada. O orçamento não foi alto, mas mesmo assim planejei em duas etapas. Portanto, a busca de um financiamento coletivo tem, principalmente, a intensão do envolvimento da sociedade diante de um tema tão polêmico, com tantas contradições, afetando a maioria das pessoas, mas sustentando minha crença de que o homem é capaz de superações e o bom senso pode prevalecer se criarmos oportunidades para tanto. Basicamente, tanto a campanha como a obra e seus derivados, visa mobilizá-los para que possamos ter saúde capaz de encarar o diferente e o contraditório. Afinal, foi nas divergências de ideias e na solidariedade humana que, no decorrer da história, atingimos maior grau de civilidade. Em decorrência das que venho coordenando desde longa data, muitas pessoas estão familiarizadas com um método de tratamento focado no social e no respeito às diferenças. E nesse ambiente, aquilo que me importa, apresentado como argumento principal nesta iniciativa, seguramente importa a muitos que tive a oportunidade de conhecer. Tentei me manter num posicionamento despretensioso, mas arrisquei-me em revelar meus sentimentos e o que penso, podendo causar em alguns a impressão de uma defesa ideológica, quando, não obstante, me ative `a princípios, essencialmente considerados universais e compreendidos na diversidade cultural.

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Para que o maior número de pessoas possam ser beneficiados, como já foi dito, escrevi numa linguagem acessível, no desafio de ser atraente tanto para profissionais de saúde e educação, como ao público em geral.

Das duas etapas do financiamento coletivo, a primeira se atem ao custo básico da realização da obra, um livro, e tudo que concerne em sua produção. Mesmo que a maioria de nós estejamos engajados por algo maior do que uma recompensa econômica, onde acreditamos oferecer uma contribuição à sociedade, foi embutido no orçamento as recompensas aos participantes, custos de correios para receberem os livros e as taxas devidas a plataforma. A segunda etapa do financiamento coletivo visa na promoção de encontros interativos, presenciais e à distância, com os custos de postagens e promoções nas redes. Também foram incluídos custos para a produção de videos, sobre o tema pertinente, com intensão de fornecer condições básicas ao leitores e telespectadores, para o enfrentamento dos aspectos perniciosos das polarizações. Estes eventos, parcialmente financiados por esta iniciativa, contarão com a presença do autor e de outros conferencistas experientes em temas complementares, porém associados a polarização, no combate a corrupção e estimuladores de ações sociais positivas.

Conflitos entre identidades e ideologias não constroem condições para uma boa convivência social e ao invés de contribuir para a coesão da sociedade, faz justamente o contrário, a desagrega. Ideologias não respeitam princípios. Passam por cima deles, pois o que interessa é atingir objetivos particulares. São tipos de conflitos que em nada contribuem para reduzir as diferenças nocivas e tão comuns na humanidade, nem diminuem as injustiças sobre as minorias ou setores frágeis desta mesma sociedade. O homem, muitas vezes sem saber como, se mete em confusões acreditando agir por uma boa causa. A mediocridade entre os homens, talvez seja o seu maior mal e gestores de uma sociedade se não a superarem , ao invés de uma política transformadora e emancipatória, promoverão a destruição de recursos integradores.

Não se trata de uma obra política, embora, quando necessário, o cenário político foi utilizado como exemplo. Pretendo contribuir com movimentos sociais de combates a corrupção e oferecer conhecimento incitando a sociedade a uma postura mais ética. Esta obra analisa o comportamento humano e, pretensiosamente, tenta sensibilizar o leitor para reunir recursos que o leve a refletir, onde a razão possa compor com as emoções de cada um, numa proporção harmoniosa. Para tanto contei com minha longa experiência como psiquiatra focado no social e em ações psicoterápicas inclusivas, a partir de Florianópolis e nas experiências compartilhadas nos congressos nacionais e pelo mundo.

Ficou chato, na atualidade, falar sobre política ou sobre os dilemas sociais. Em muitos lugares pisamos em ovos, em outros, tornou-se proibido discutir certos temas. Antes nosso posicionamento diferente não gerava os dissabores que geram agora. Vamos conhecer os mecanismos individuais e sociais que ampliaram este dilema. As pessoas no mundo polarizado parecem pertencer a mundos diferentes. Até mesmo a grande mídia se perdeu, ao se distanciar da ética jornalística, assim como aconteceu com funcionários públicos, que ao assumirem um posicionamento ativista ou individualista, deixaram de exercer seus papéis.

Tudo parece ilusório, na substituição dos diálogos por embates, semelhantes aos que acontecem entre fiéis de igrejas distintas, cada um tentando mais seguidores na justificativa de salvar o seu rebanho. Os espaços religiosos, perderam a oportunidade para difundir o amor e pregar que somos todos irmãos quando agências religiosas defendiam um deus particular, ao invés de um deus para todos. Para superarmos este cenário social patológico, tenho inspirações a oferecer, retirada das sessões de Terapia Social, que realizamos diariamente em Florianópolis. Elas tem também a referência das sociedades tradicionais, onde a estratégia em falar na primeira pessoa é um recurso que facilita a comunicação, onde os participantes possam entender e respeitar o outro.

Saber lidar com a pluralidade da sociedade atual e conviver com as diferenças é cada vez mais necessário. Para o trabalhador de saúde mental é essencial, para o estudioso, deve se somar a busca de um distanciamento que lhe de condições de ver a amplitude do indivíduo e uma aproximação capaz de compreender seus aspectos individuais. Ninguém, nem mesmo célebres intelectuais, estão isentos da influência do mundo polarizado. O objetivo deste livro e dos eventos a partir dele é fornecer recursos para entender este processo e nos ajudar, a todos, a superar o que nos leva a insanidade, que nos transforma de pensadores livres, a reféns das manipulações. Sem discernimento passamos a repetir os mantras, conduzidos por aqueles que buscam um determinado posicionamento das massas e souberam nos conquistar com a ajuda dos recursos de comunicação que dispõe.

Saberemos compreender que os últimos acontecimentos foram fatos desencadeadores, e não causadores das reações que estamos chamando de polarização. Como entender a imunização cognitiva que impede as pessoas de reconhecerem os crimes de seus ídolos e recorrerem a negação dos fatos, e as vezes, ao delírio? No Brasil, as pessoas que resistiram em reconhecer as limitações de seus candidatos partiram na busca de defeitos nos adversários para minimizar os delitos insuperáveis descobertos sobre seus políticos de estimação. Podiam ter dado um outro direcionamento, pois os crimes foram cometidos por pessoas e não pela ideologia que estas pessoas declaravam defender, e que havíamos nos identificado.

Para esta obra eu recorri a um discurso livre e acessível extraindo de minhas leituras e do convívio diário com a sociedade nos espaços sociais e das psicoterapias que coordeno. É uma forma de ampliarmos a comunicação, não restringindo apenas a profissionais de saúde. A falta de rigor nas referências científicas desta obra, não significa falta de responsabilidade ou perda da seriedade. Mantive o estilo de uma linguagem coloquial, assim como fiz nas obras anteriores, “Terapia Social” e “O Cérebro e as Emoções”. Como se trata também de uma reflexão sociológica, tramitei por diversos momentos históricos tentando neles reconhecer possíveis influências sobre o comportamento do homem contemporâneo. Portanto, a doença social das polarizações tem íntima relação com nossa forma de viver, respaldada por valores culturais de uma determinada sociedade, em uma determinada época.